segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Sobre Belo Monte

Depois de muitos videos sobre Belo Monte, vários contra, alguns a favor, mas a maioria sem muitos argumentos, vem essa entrevista com Oswaldo Sevá engenheiro da UNICAMP que estuda o assunto há década, mostrando a lógica predatória de Belo Monte, um projeto que já existe há mais de 30 anos! A entrevista tem mais 3 partes, se gostou, segue o restante no youtube:


http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=A9kyIFC8G0g#!

Pela apuração rigorosa das violências contra os Guarani Kaiowá de Guaiviry

Os atentados violentos contra os povos indígenas continuam frequentes e, geralmente, sem a mínima preocupação pública.
Esse abaixo assinado pede o mínimo, que as denúncias sejam pelo menos apuradas! Se você concordar, assine:
http://www2.socioambiental.org/violencia-contra-os-guarani-kaiowa

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Teat(r)o Oficcina Uzyna Uzzona

E lendo Deleuze, me deparo com:
"Acreditar no mundo é o que mais nos falta; nós perdemos completamente o mundo, nos desapossaram  dele. Acreditar no mundo significa principalmente suscitar acontecimentos, mesmo pequenos, que  escapem ao controle, ou engendrar novos espaço-tempos, mesmo de superfície ou volume reduzidos. "
(Conversações, p. 218.)


E não tem como não lembrar de Zé Celso Martinez e o teatro officina. Recomendo a entrevista que ele deu esse mês pra revista Trip e, claro, a página oficial do grupo.  ("A alma erótica, quando fica com tesão, que vibra, é a mesma vibração da criação estética. Você fica tomado por aquilo e atinge um estado..." Zé Celso) 

Porque sei que sentir a energia do teatro é engendrar novos espaços-tempos, é sentir que o mundo ainda é acreditável.


http://teatroficina.uol.com.br/ (site)
http://revistatrip.uol.com.br/revista/204/paginas-negras/ze-celso.html#17 (entrevista)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O labirinto da solidão ou uma leitura do México

Pensadores dos mais diversos locais da cultura imprimem suas reflexões sobre a ruptura que marca a relação entre o sujeito e o mundo, da qual se identifica um tema profícuo no pensamento moderno: a solidão. Esse tema pertence ao eixo semântico de termos como exílio, isolamento, desterritorialização, entre outros, figurando em textos como A teoria do romance, do húngaro Georg Lukács; A ascensão do romance, do inglês Ian Watt; O homem desenraizado, do búlgaro Tzvetan Todorov, para citar alguns exemplos. Na cartografia desse tema, escapam vários outros pensadores, mas não sem antes afirmar que alguns deles sedimentam suas reflexões em solo americano. Entre eles, cita-se o mexicano Octavio Paz.

Paz não apenas aborda a solidão – sentimento que incide na ruptura do sujeito com o mundo que o circunda. Ele discorre sobre a solidão como uma metáfora que encerra em seus signos um modo de ler nações como o México e, por exemplo, os Estados Unidos, nas quais destaca traços peculiares, entre os quais menciona a ânsia do norte-americano em compreender em contraste com a pulsão do mexicano em contemplar. Atos confluentes com a paisagem da “grande noite de pedra da Altiplanura, ainda povoada de deuses insaciáveis” diferente do “mundo abstrato de máquinas, concidadãos e preceitos morais” norte-americano, que engendram tons difusos de se perceber só.

Octavio Paz define o processo de escrita de O labirinto da solidão como um “exercício da imaginação crítica” (2006, p. 195) e convida o leitor a entrar nesse percurso pelas metáforas que desenha a partir de símbolos culturais de uma mexicanidade. Ele também envolve o seu leitor na reflexão sobre si e algo que pode acompanhar o sujeito em qualquer lugar: a solidão. Essa companhia que decalca as linhas do vazio arremata o leitor pela coerência do discurso de Paz e o leva a se reconhecer na ressalva feita pelo autor sobre a pretensão de pensar acordado, deixando-se, então, guiar pelas constelações de pensamentos que embalam a voz do autor mexicano ao dizer: é preciso tentar sonhar outra vez de olhos fechados.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Direito para quem?

O Movimento Direito para Quem, definido por si mesmo como um "coletivo de militantes que luta pelos direitos humanos sob uma perspectiva anticapitalista e de emancipação da classe trabalhadora", além de outros trabalhos que valem ser conferidos no site ou no facebook, tem também um trabalho interessante de fotografias de escritos nos muros, expressões anônimas que gritam. Afinal, se as paredes tem ouvidos, os muros tem voz



Veja mais aqui
E ajude a divulgar as vozes dos muros, enviando fotos para o grupo

A tinta vermelha: discurso de Slavoj Žižek aos manifestantes do movimento Occupy Wall Street


Como já havia postado antes aqui no Blog, o 'movimento' Ocuppy wall Street, segue com toda a força, ainda que sofrendo muita repressão. Zizek prestou seu apoio com um discurso claro e direto. Os alto-falantes estavam proibidos pela polícia e os manifestantes fizeram coro para serem ouvidos.

Discurso traduzido retirado do excelente Blog da Boitempo



Slavoj Žižek visitou a Liberty Plaza, em Nova Iorque, para falar ao acampamento de manifestantes do movimento Occupy Wall Street (Ocupe Wall Street), que vem protestando contra a crise financeira e o poder econômico norte-americano desde o início de setembro deste ano.
***
Não se apaixonem por si mesmos, nem pelo momento agradável que estamos tendo aqui. Carnavais custam muito pouco – o verdadeiro teste de seu valor é o que permanece no dia seguinte, ou a maneira como nossa vida normal e cotidiana será modificada. Apaixone-se pelo trabalho duro e paciente – somos o início, não o fim. Nossa mensagem básica é: o tabu já foi rompido, não vivemos no melhor mundo possível, temos a permissão e a obrigação de pensar em alternativas. Há um longo caminho pela frente, e em pouco tempo teremos de enfrentar questões realmente difíceis – questões não sobre aquilo que não queremos, mas sobre aquilo que QUEREMOS. Qual organização social pode substituir o capitalismo vigente? De quais tipos de líderes nós precisamos? As alternativas do século XX obviamente não servem.
Então não culpe o povo e suas atitudes: o problema não é a corrupção ou a ganância, mas o sistema que nos incita a sermos corruptos. A solução não é o lema “Main Street, not Wall Street”, mas sim mudar o sistema em que a Main Street não funciona sem o Wall Street. Tenham cuidado não só com os inimigos, mas também com falsos amigos que fingem nos apoiar e já fazem de tudo para diluir nosso protesto. Da mesma maneira que compramos café sem cafeína, cerveja sem álcool e sorvete sem gordura, eles tentarão transformar isto aqui em um protesto moral inofensivo. Mas a razão de estarmos reunidos é o fato de já termos tido o bastante de um mundo onde reciclar latas de Coca-Cola, dar alguns dólares para a caridade ou comprar um cappuccino da Starbucks que tem 1% da renda revertida para problemas do Terceiro Mundo é o suficiente para nos fazer sentir bem. Depois de terceirizar o trabalho, depois de terceirizar a tortura, depois que as agências matrimoniais começaram a terceirizar até nossos encontros, é que percebemos que, há muito tempo, também permitimos que nossos engajamentos políticos sejam terceirizados – mas agora nós os queremos de volta.
Dirão que somos “não americanos”. Mas quando fundamentalistas conservadores nos disserem que os Estados Unidos são uma nação cristã, lembrem-se do que é o Cristianismo: o Espírito Santo, a comunidade livre e igualitária de fiéis unidos pelo amor. Nós, aqui, somos o Espírito Santo, enquanto em Wall Street eles são pagãos que adoram falsos ídolos.
Dirão que somos violentos, que nossa linguagem é violenta, referindo-se à ocupação e assim por diante. Sim, somos violentos, mas somente no mesmo sentido em que Mahatma Gandhi foi violento. Somos violentos porque queremos dar um basta no modo como as coisas andam – mas o que significa essa violência puramente simbólica quando comparada à violência necessária para sustentar o funcionamento constante do sistema capitalista global?
Seremos chamados de perdedores – mas os verdadeiros perdedores não estariam lá em Wall Street, os que se safaram com a ajuda de centenas de bilhões do nosso dinheiro? Vocês são chamados de socialistas, mas nos Estados Unidos já existe o socialismo para os ricos. Eles dirão que vocês não respeitam a propriedade privada, mas as especulações de Wall Street que levaram à queda de 2008 foram mais responsáveis pela extinção de propriedades privadas obtidas a duras penas do que se estivéssemos destruindo-as agora, dia e noite – pense nas centenas de casas hipotecadas…
Nós não somos comunistas, se o comunismo significa o sistema que merecidamente entrou em colapso em 1990 – e lembrem-se de que os comunistas que ainda detêm o poder atualmente governam o mais implacável dos capitalismos (na China). O sucesso do capitalismo chinês liderado pelo comunismo é um sinal abominável de que o casamento entre o capitalismo e a democracia está próximo do divórcio. Nós somos comunistas em um sentido apenas: nós nos importamos com os bens comuns – os da natureza, do conhecimento – que estão ameaçados pelo sistema.
Eles dirão que vocês estão sonhando, mas os verdadeiros sonhadores são os que pensam que as coisas podem continuar sendo o que são por um tempo indefinido, assim como ocorre com as mudanças cosméticas. Nós não estamos sonhando; nós acordamos de um sonho que está se transformando em pesadelo. Não estamos destruindo nada; somos apenas testemunhas de como o sistema está gradualmente destruindo a si próprio. Todos nós conhecemos a cena clássica dos desenhos animados: o gato chega à beira do precipício e continua caminhando, ignorando o fato de que não há chão sob suas patas; ele só começa a cair quando olha para baixo e vê o abismo. O que estamos fazendo é simplesmente levar os que estão no poder a olhar para baixo…
Então, a mudança é realmente possível? Hoje, o possível e o impossível são dispostos de maneira estranha. Nos domínios da liberdade pessoal e da tecnologia científica, o impossível está se tornando cada vez mais possível (ou pelo menos é o que nos dizem): “nada é impossível”, podemos ter sexo em suas mais perversas variações; arquivos inteiros de músicas, filmes e seriados de TV estão disponíveis para download; a viagem espacial está à venda para quem tiver dinheiro; podemos melhorar nossas habilidades físicas e psíquicas por meio de intervenções no genoma, e até mesmo realizar o sonho tecnognóstico de atingir a imortalidade transformando nossa identidade em um programa de computador. Por outro lado, no domínio das relações econômicas e sociais, somos bombardeados o tempo todo por um discurso do “você não pode” se envolver em atos políticos coletivos (que necessariamente terminam no terror totalitário), ou aderir ao antigo Estado de bem-estar social (ele nos transforma em não competitivos e leva à crise econômica), ou se isolar do mercado global etc. Quando medidas de austeridade são impostas, dizem-nos repetidas vezes que se trata apenas do que tem de ser feito. Quem sabe não chegou a hora de inverter as coordenadas do que é possível e impossível? Quem sabe não podemos ter mais solidariedade e assistência médica, já que não somos imortais?
Em meados de abril de 2011, a mídia revelou que o governo chinês havia proibido a exibição, em cinemas e na TV, de filmes que falassem de viagens no tempo e histórias paralelas, argumentando que elas trazem frivolidade para questões históricas sérias – até mesmo a fuga fictícia para uma realidade alternativa é considerada perigosa demais. Nós, do mundo Ocidental liberal, não precisamos de uma proibição tão explícita: a ideologia exerce poder material suficiente para evitar que narrativas históricas alternativas sejam interpretadas com o mínimo de seriedade. Para nós é fácil imaginar o fim do mundo – vide os inúmeros filmes apocalípticos –, mas não o fim do capitalismo.
Em uma velha piada da antiga República Democrática Alemã, um trabalhador alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que todas as suas correspondências serão lidas pelos censores, ele diz para os amigos: “Vamos combinar um código: se vocês receberem uma carta minha escrita com tinta azul, ela é verdadeira; se a tinta for vermelha, é falsa”. Depois de um mês, os amigos receberam a primeira carta, escrita em azul: “Tudo é uma maravilha por aqui: os estoques estão cheios, a comida é abundante, os apartamentos são amplos e aquecidos, os cinemas exibem filmes ocidentais, há mulheres lindas prontas para um romance – a única coisa que não temos é tinta vermelha.” E essa situação, não é a mesma que vivemos até hoje? Temos toda a liberdade que desejamos – a única coisa que falta é a “tinta vermelha”: nós nos “sentimos livres” porque somos desprovidos da linguagem para articular nossa falta de liberdade. O que a falta de tinta vermelha significa é que, hoje, todos os principais termos que usamos para designar o conflito atual – “guerra ao terror”, “democracia e liberdade”, “direitos humanos” etc. etc. – são termos FALSOS que mistificam nossa percepção da situação em vez de permitir que pensemos nela. Você, que está aqui presente, está dando a todos nós tinta vermelha.