segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O labirinto da solidão ou uma leitura do México

Pensadores dos mais diversos locais da cultura imprimem suas reflexões sobre a ruptura que marca a relação entre o sujeito e o mundo, da qual se identifica um tema profícuo no pensamento moderno: a solidão. Esse tema pertence ao eixo semântico de termos como exílio, isolamento, desterritorialização, entre outros, figurando em textos como A teoria do romance, do húngaro Georg Lukács; A ascensão do romance, do inglês Ian Watt; O homem desenraizado, do búlgaro Tzvetan Todorov, para citar alguns exemplos. Na cartografia desse tema, escapam vários outros pensadores, mas não sem antes afirmar que alguns deles sedimentam suas reflexões em solo americano. Entre eles, cita-se o mexicano Octavio Paz.

Paz não apenas aborda a solidão – sentimento que incide na ruptura do sujeito com o mundo que o circunda. Ele discorre sobre a solidão como uma metáfora que encerra em seus signos um modo de ler nações como o México e, por exemplo, os Estados Unidos, nas quais destaca traços peculiares, entre os quais menciona a ânsia do norte-americano em compreender em contraste com a pulsão do mexicano em contemplar. Atos confluentes com a paisagem da “grande noite de pedra da Altiplanura, ainda povoada de deuses insaciáveis” diferente do “mundo abstrato de máquinas, concidadãos e preceitos morais” norte-americano, que engendram tons difusos de se perceber só.

Octavio Paz define o processo de escrita de O labirinto da solidão como um “exercício da imaginação crítica” (2006, p. 195) e convida o leitor a entrar nesse percurso pelas metáforas que desenha a partir de símbolos culturais de uma mexicanidade. Ele também envolve o seu leitor na reflexão sobre si e algo que pode acompanhar o sujeito em qualquer lugar: a solidão. Essa companhia que decalca as linhas do vazio arremata o leitor pela coerência do discurso de Paz e o leva a se reconhecer na ressalva feita pelo autor sobre a pretensão de pensar acordado, deixando-se, então, guiar pelas constelações de pensamentos que embalam a voz do autor mexicano ao dizer: é preciso tentar sonhar outra vez de olhos fechados.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Direito para quem?

O Movimento Direito para Quem, definido por si mesmo como um "coletivo de militantes que luta pelos direitos humanos sob uma perspectiva anticapitalista e de emancipação da classe trabalhadora", além de outros trabalhos que valem ser conferidos no site ou no facebook, tem também um trabalho interessante de fotografias de escritos nos muros, expressões anônimas que gritam. Afinal, se as paredes tem ouvidos, os muros tem voz



Veja mais aqui
E ajude a divulgar as vozes dos muros, enviando fotos para o grupo

A tinta vermelha: discurso de Slavoj Žižek aos manifestantes do movimento Occupy Wall Street


Como já havia postado antes aqui no Blog, o 'movimento' Ocuppy wall Street, segue com toda a força, ainda que sofrendo muita repressão. Zizek prestou seu apoio com um discurso claro e direto. Os alto-falantes estavam proibidos pela polícia e os manifestantes fizeram coro para serem ouvidos.

Discurso traduzido retirado do excelente Blog da Boitempo



Slavoj Žižek visitou a Liberty Plaza, em Nova Iorque, para falar ao acampamento de manifestantes do movimento Occupy Wall Street (Ocupe Wall Street), que vem protestando contra a crise financeira e o poder econômico norte-americano desde o início de setembro deste ano.
***
Não se apaixonem por si mesmos, nem pelo momento agradável que estamos tendo aqui. Carnavais custam muito pouco – o verdadeiro teste de seu valor é o que permanece no dia seguinte, ou a maneira como nossa vida normal e cotidiana será modificada. Apaixone-se pelo trabalho duro e paciente – somos o início, não o fim. Nossa mensagem básica é: o tabu já foi rompido, não vivemos no melhor mundo possível, temos a permissão e a obrigação de pensar em alternativas. Há um longo caminho pela frente, e em pouco tempo teremos de enfrentar questões realmente difíceis – questões não sobre aquilo que não queremos, mas sobre aquilo que QUEREMOS. Qual organização social pode substituir o capitalismo vigente? De quais tipos de líderes nós precisamos? As alternativas do século XX obviamente não servem.
Então não culpe o povo e suas atitudes: o problema não é a corrupção ou a ganância, mas o sistema que nos incita a sermos corruptos. A solução não é o lema “Main Street, not Wall Street”, mas sim mudar o sistema em que a Main Street não funciona sem o Wall Street. Tenham cuidado não só com os inimigos, mas também com falsos amigos que fingem nos apoiar e já fazem de tudo para diluir nosso protesto. Da mesma maneira que compramos café sem cafeína, cerveja sem álcool e sorvete sem gordura, eles tentarão transformar isto aqui em um protesto moral inofensivo. Mas a razão de estarmos reunidos é o fato de já termos tido o bastante de um mundo onde reciclar latas de Coca-Cola, dar alguns dólares para a caridade ou comprar um cappuccino da Starbucks que tem 1% da renda revertida para problemas do Terceiro Mundo é o suficiente para nos fazer sentir bem. Depois de terceirizar o trabalho, depois de terceirizar a tortura, depois que as agências matrimoniais começaram a terceirizar até nossos encontros, é que percebemos que, há muito tempo, também permitimos que nossos engajamentos políticos sejam terceirizados – mas agora nós os queremos de volta.
Dirão que somos “não americanos”. Mas quando fundamentalistas conservadores nos disserem que os Estados Unidos são uma nação cristã, lembrem-se do que é o Cristianismo: o Espírito Santo, a comunidade livre e igualitária de fiéis unidos pelo amor. Nós, aqui, somos o Espírito Santo, enquanto em Wall Street eles são pagãos que adoram falsos ídolos.
Dirão que somos violentos, que nossa linguagem é violenta, referindo-se à ocupação e assim por diante. Sim, somos violentos, mas somente no mesmo sentido em que Mahatma Gandhi foi violento. Somos violentos porque queremos dar um basta no modo como as coisas andam – mas o que significa essa violência puramente simbólica quando comparada à violência necessária para sustentar o funcionamento constante do sistema capitalista global?
Seremos chamados de perdedores – mas os verdadeiros perdedores não estariam lá em Wall Street, os que se safaram com a ajuda de centenas de bilhões do nosso dinheiro? Vocês são chamados de socialistas, mas nos Estados Unidos já existe o socialismo para os ricos. Eles dirão que vocês não respeitam a propriedade privada, mas as especulações de Wall Street que levaram à queda de 2008 foram mais responsáveis pela extinção de propriedades privadas obtidas a duras penas do que se estivéssemos destruindo-as agora, dia e noite – pense nas centenas de casas hipotecadas…
Nós não somos comunistas, se o comunismo significa o sistema que merecidamente entrou em colapso em 1990 – e lembrem-se de que os comunistas que ainda detêm o poder atualmente governam o mais implacável dos capitalismos (na China). O sucesso do capitalismo chinês liderado pelo comunismo é um sinal abominável de que o casamento entre o capitalismo e a democracia está próximo do divórcio. Nós somos comunistas em um sentido apenas: nós nos importamos com os bens comuns – os da natureza, do conhecimento – que estão ameaçados pelo sistema.
Eles dirão que vocês estão sonhando, mas os verdadeiros sonhadores são os que pensam que as coisas podem continuar sendo o que são por um tempo indefinido, assim como ocorre com as mudanças cosméticas. Nós não estamos sonhando; nós acordamos de um sonho que está se transformando em pesadelo. Não estamos destruindo nada; somos apenas testemunhas de como o sistema está gradualmente destruindo a si próprio. Todos nós conhecemos a cena clássica dos desenhos animados: o gato chega à beira do precipício e continua caminhando, ignorando o fato de que não há chão sob suas patas; ele só começa a cair quando olha para baixo e vê o abismo. O que estamos fazendo é simplesmente levar os que estão no poder a olhar para baixo…
Então, a mudança é realmente possível? Hoje, o possível e o impossível são dispostos de maneira estranha. Nos domínios da liberdade pessoal e da tecnologia científica, o impossível está se tornando cada vez mais possível (ou pelo menos é o que nos dizem): “nada é impossível”, podemos ter sexo em suas mais perversas variações; arquivos inteiros de músicas, filmes e seriados de TV estão disponíveis para download; a viagem espacial está à venda para quem tiver dinheiro; podemos melhorar nossas habilidades físicas e psíquicas por meio de intervenções no genoma, e até mesmo realizar o sonho tecnognóstico de atingir a imortalidade transformando nossa identidade em um programa de computador. Por outro lado, no domínio das relações econômicas e sociais, somos bombardeados o tempo todo por um discurso do “você não pode” se envolver em atos políticos coletivos (que necessariamente terminam no terror totalitário), ou aderir ao antigo Estado de bem-estar social (ele nos transforma em não competitivos e leva à crise econômica), ou se isolar do mercado global etc. Quando medidas de austeridade são impostas, dizem-nos repetidas vezes que se trata apenas do que tem de ser feito. Quem sabe não chegou a hora de inverter as coordenadas do que é possível e impossível? Quem sabe não podemos ter mais solidariedade e assistência médica, já que não somos imortais?
Em meados de abril de 2011, a mídia revelou que o governo chinês havia proibido a exibição, em cinemas e na TV, de filmes que falassem de viagens no tempo e histórias paralelas, argumentando que elas trazem frivolidade para questões históricas sérias – até mesmo a fuga fictícia para uma realidade alternativa é considerada perigosa demais. Nós, do mundo Ocidental liberal, não precisamos de uma proibição tão explícita: a ideologia exerce poder material suficiente para evitar que narrativas históricas alternativas sejam interpretadas com o mínimo de seriedade. Para nós é fácil imaginar o fim do mundo – vide os inúmeros filmes apocalípticos –, mas não o fim do capitalismo.
Em uma velha piada da antiga República Democrática Alemã, um trabalhador alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que todas as suas correspondências serão lidas pelos censores, ele diz para os amigos: “Vamos combinar um código: se vocês receberem uma carta minha escrita com tinta azul, ela é verdadeira; se a tinta for vermelha, é falsa”. Depois de um mês, os amigos receberam a primeira carta, escrita em azul: “Tudo é uma maravilha por aqui: os estoques estão cheios, a comida é abundante, os apartamentos são amplos e aquecidos, os cinemas exibem filmes ocidentais, há mulheres lindas prontas para um romance – a única coisa que não temos é tinta vermelha.” E essa situação, não é a mesma que vivemos até hoje? Temos toda a liberdade que desejamos – a única coisa que falta é a “tinta vermelha”: nós nos “sentimos livres” porque somos desprovidos da linguagem para articular nossa falta de liberdade. O que a falta de tinta vermelha significa é que, hoje, todos os principais termos que usamos para designar o conflito atual – “guerra ao terror”, “democracia e liberdade”, “direitos humanos” etc. etc. – são termos FALSOS que mistificam nossa percepção da situação em vez de permitir que pensemos nela. Você, que está aqui presente, está dando a todos nós tinta vermelha.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Feira do Livro indígena

CHAMADA:
Durante quatro dias, a cultura dos povos indígenas ganha a cena, nas suas mais diversas formas de manifestações, promovendo o prazer pela leitura e uma viagem ao Brasil indígena.
Palestras;
Exposições
Contação de Histórias;
Lançamentos;
Atividades Culturais;
Oficinas;
Editoras;

Participe!

23 a 26 de novembro de 2011
Palácio da Instrução - Cuiabá – MT

Realização:
Secretaria de Cultura do MT


Apoio:
Insituto UKA-Casa dos Saberes AncestraisNEARIN - Núcleo de Escritores e Artistas Indígenas do INBRAPI

Informações:flimt@cultura.mt.gov.br

segunda-feira, 10 de outubro de 2011


POPOL VUH:  I SEMINÁRIO DO NÚCLEO DE ESTUDOS DE NARRATIVAS CONTEMPORÂNEAS DAS AMÉRICAS
17 e 18 de outubro de 2011


PROGRAMAÇÃO

SEGUNDA - DIA 17/10/2011


18:30 - Abertura: O grupo Popol Vuh com a Prof.ª Drª Denise Carrascosa
                            Sobre o blog http://grupopolvuh.blogspot.com

 19:00 – O que/como pesquisar dentro/fora da Universidade:  apresentação dos projetos de pesquisa/extensão à comunidade acadêmica. 
Apresentação de projetos de pesquisa:
·      rosto sexualizado: pedagogia crítica das artes visuais
Palestrante: Anna Amélia de Faria
·      Ver palavras, escrever imagens: Entre o verbal e o cinematográfico
Palestrante: Júlia Morena Costa

19:30 – Discussão com mediação do Prof. Dr. Henrique Freitas
20:00 –  O que/como pesquisar dentro/fora da Universidade: apresentação dos projetos de pesquisa extensão  à comunidade acadêmica. 
Apresentação do projeto de pesquisa:
·      Narrativas de si, políticas de si.
Palestrantes: Denise Carrascosa e estudantes vinculados ao projeto de pesquisa.

21:00- Discussão com a mediação do Prof. Dr. Henrique Freitas

POPOL VUH:  I SEMINÁRIO DO NÚCLEO DE ESTUDOS DE NARRATIVAS CONTEMPORÂNEAS DAS AMÉRICAS
17 e 18 de outubro de 2011

PROGRAMAÇÃO

TERÇA - DIA 18/10/2011

19:00 – O que/como pesquisar dentro/fora da Universidade:  apresentação dos projetos de pesquisa/extensão à comunidade acadêmica. 
Apresentação do projeto de pesquisa:
·      Das escrições às escrituras dos povos indígenas da Bahia: por uma cartografia.
Palestrante: Suzane Lima Costa e estudantes vinculados ao projeto de pesquisa.
20:00 – Discussões mediadas pela Profª. Drª. Denise Carrascosa
20:30 - O que/como pesquisar dentro/fora da Universidade:  apresentação dos projetos de pesquisa/extensão à comunidade acadêmica. 
    Apresentação do projeto de pesquisa:
·      Cartografias da infância
Palestrante: Mônica Menezes
·      Entre memórias e esquecimentos: o exílio como metáfora em textos literários
Palestrante: Fernanda Mota

21:00 – Discussão mediada pela Profª. Drª. Anna Amélia de Faria

sábado, 8 de outubro de 2011

Da invenção da infância

A irrupção da revolução industrial no final do século XVII e início do século XVII, deflagrou não somente o crescimento político, financeiro e populacional das cidades e a decadência do poder rural e do feudalismo remanescente desde a Idade Média, mas também a consolidação da burguesia enquanto classe social. Tal modificação reconfigurou radicalmente as formas de constituição da sociedade, pois, se antes a divisão em classes era estática, estável e predeterminada pela linhagem, após a ascensão da burguesia, tornou-se móvel, instituindo-se a possibilidade de vir a ser.
A possibilidade de vir a ser gerou, por sua vez, uma nova forma de compreensão da infância, uma vez que se tornou necessário estabelecer uma etapa preparatória para o ingresso do homem no sistema produtivo. A criança passou então a representar a promessa de futuro e, sendo assim, deveria ser aparelhada, moldada para se transformar em algo grandioso. Desse modo, tornou-se imperativa a criação de múltiplos equipamentos para sua regulação, controle e cuidado etc. Dentre tais equipamentos – ou tecnologias – está a literatura infantil/juvenil: um instrumento da escola com objetivos sobretudo didáticos e moralistas.
O vínculo estreito da literatura infantil/juvenil com a pedagogia desde o seu surgimento, especificamente com a instituição que foi reelaborada em decorrência da ascensão da burguesia e da modificação do conceito de família, resultou de uma necessidade da ordem burguesa em estabelecer normas de convivência, comportamentos, modos de ser, de viver e de fazer, com vistas a preparar as crianças para o ingresso futuro no sistema produtivo. Para tanto, os contos da tradição oral que foram recolhidos e adaptados se constituíram em histórias exemplares para crianças burguesas: um lobo mau poderia devorar aquelas garotinhas que fossem desobedientes e curiosas; os preguiçosos e dionisíacos, tal qual a cigarra, corriam o risco de morrer de fome e de frio.
Essa mesma pulsão pedagógica continua em alguma medida direcionando, na contemporaneidade, não apenas a produção das obras e a elaboração de cânones destinados à infância e à adolescência, mas também os tipos de abordagens a serem ativados quando da sua leitura.  

Sobre novos manifestos...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

MANIFESTOS POR UM BRASIL HIGH-TECH

No PET-indígena UFBA, estamos nos mobilizando em ações do tipo:

1.  Xoças-manifestos pela leitura: por um manifesto para repensar as formas de ler e escrever, suas  mediações, seus agenciamentos e agenciadores.

2. Por um projeto embrionário: Bibliotecas comunitárias de Salvador e a criação das Bibliotecas nas aldeias indígenas: gambiarreando saberes.

3. Isso tudo no caminho de pesquisacionar ( PALAVRA HOJE DE ORDEM DO NOSSO GRUPO, QUE ESTAMOS TENTANDO EPISTEMATIZAR) falas como a da professora Maria José Lima, Xukuru/Pernambuco (MEC. 2002, p. 60):

 "As dificuldades que vivemos para construir esta escola diferenciada é que não temos livros diferentes. Os que temos são iguais aos da cidade e não falam de nosso povo... Este problema pode ser superado através da produção de livros nossos."
                                
Em diálogo com a fala de Joaquim Maná (1):

“Pela primeira vez, nós, índios, analisamos os projetos de material didático que vamos usar”.

Essas assertivas, proferidas pelos professores indígenas, no encontro organizado em 2006, pelo Ministério da Educação, através da Comissão de Apoio à Produção de Materiais Didáticos (CAPEMA), nos colocam diante de uma série de questões para pensarmos sobre quais são as políticas de produção e distribuição do material didático confeccionado para as escolas indígenas no Brasil de hoje.


[1] Joaquim Maná é professor indígena bilíngue em Praia do Carapanã (região de Tarauacá, Rio Branco-  AC). Escritor e pesquisador das tradições dos povos indígenas do Acre, tendo publicou várias cartilhas que registram a história, os mitos, as artes do povo Kaxinawá ou Huni Kuin. Uma de suas obra mais importantes, o livro Shenipabu Miyui: a história dos antigos, foi publicada em parceria com os mestres em tradição nas terras Kaxinawá no Brasil e no Peru. Para informações mais detalhadas ver: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3978&catid=206 >

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Teatro de Los Andes

César Brie, argentino radicado na Bolívia, dirige o Teatro de Los Andes, em Yotala. O grupo funciona e vive em uma fazenda e propõe uma mescla entre o agora e nossas origens andinas, precolombianas. Essas marcas estão na força, no vestuário, nos gestos, nos rostos, na relação com a terra e com a arte.
Reproduzo aqui a apresentação do grupo, com tradução apressada minha:

"Fundamos o Teatro de los Andes em Agosto de 1991, na Bolívia.
Vivemos em Yotala, perto de Sucre, num Teatro-sítio onde preparamos nossas obras, as apresentamos, hospedamos nossos artistas, realizamos encontros e oficinas.
Nos propomos formar um ator-poeta no sentido etimológico do termo: fazedor, criador. O que cria e faz. Para isto realizamos um treinamento cotidiano, físico e vocal, e trabalhamos sobre formas de improvisação e composição.
Unimos em nossas obras as reflexões sobre o espaço cênico, sobre a arte do ator e a necessidade de contar historias, de recordar, de «voltar em si».
Nos propomos um teatro que podemos chamar do humor e da memória.
Somos profissionais no antigo sentido de professar nossas motivações, «confessa-las em público». E é a relação com o público que determina nosso fazer: tirar o teatro dos teatros e levá-lo onde estão as pessoas, a universidades, praças, bairros, povoados, lugares de trabalho, comunidades. Buscar um novo público para o teatro e criar um novo teatro para este público.
 Nossa revista "El Tonto del Pueblo" é outro instrumento para este diálogo.
Queremos construir uma ponte entre a técnica teatral que possuímos -e que podemos definir ocidental- e as fontes culturais andinas que se expressam através da própria música, festas e rituais. O contato, o encontro e o  diálogo são imprescindíveis para nosso trabalho cultural. Não o isolamento.
A mescla de raças, culturas, usos, as migrações, sempre criaram novas formas expressivas e musicais. Ainda que se tenham perdido coisas antigas, aquilo que surgiu do encontro, a mescla, é a forma com que o homem de hoje se expressa: filho de sua condição e experiências, com a memória aberta ao que foi e a mente projetada para  adiante.
Este homem é o sujeito e objeto do nosso trabalho."


Cena de La Ilíada, 2000, direção de César Brie






Cenas de um Brasil high-tech

Vejam as produções escritas dos povos indígenas no Brasil.

http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/indigena/didatico_indigena.pdf

Se o chocalho do xamã é mesmo um acelerador de partículas, como bem sugeriu Eduardo Viveiros de Castro, breve veremos as produções dos grupos étnicos da Bahia nessa mostragem e para além dela: nas escolas e nos seus entornos. Que os PRAIÁ digam que sim, para dançarmos esse TORÉ. Para mim, aqui estão as "Cenas de um Brasil high-tech."